Eu e SÓ EU...

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Alone

Chegar ou partir...

Como EU sou...

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Bom Dia, Boa Noite... "essas coisas"!

Posting

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PORTUGAL é "só isto"...?!... NÃO... essencialmente, é UM POVO...!!!

Provérbios

“Só um sentido de invenção e uma necessidade intensa de criar levam o homem a revoltar-se, a descobrir e a descobrir-se com lucidez”. (Pablo Picasso)

PORTRAIT




Não importa quantos passos você deu para trás, o importante é quantos passos, agora, você vai dar para frente.

Gedeão


Eu, quando choro, não choro eu. Chora aquilo que nos homens em todo o tempo sofreu. As lágrimas são as minhas mas o choro não é meu.A.Gedeão

A(o)s que me deixam MENOS alone...!!!

sábado, 6 de agosto de 2011

O Maiô da Freira



Abri o portão, o cachorro foi saindo calmamente, acenou com o rabo antes de ganhar a rua da casa da praia. Ela passou por mim numa nuvem perfumada, antes que eu fechasse o portão, óculos escuros, guarda-sol, o maiô preto antiquado. Esperei ela desaparecer na direção do mar. Depois toquei para lá.

A paisagem mudou, pensei, estava se abrindo.

Gostei de chegar perto do grupo. Zu, a empregada (Zu para lá e para cá o tempo todo, como o vento), o filho maior e o menor ocupados com um castelo de areia desconstruído. Ela já devia estar na água. Mas não saía de lá.
Esperei.

Talvez estivesse caminhando na areia.
Um ponto preto desaparecia na direção da gruta, no fim da praia.

Fui atrás dela.
Onde ela estivesse eu preferia estar.

Um bando de siris atravessou na minha frente para se enterrar na areia. Um novo vira-lata me acompanhou por um bom tempo e de repente saiu pela direita. Um garotinho barrigudo com um balde de plástico na cabeça me encarou do alto de um banco de areia, escondendo os olhos do sol, nariz branco de protetor solar.
Perdeu o equilíbrio e caiu sentado.

Quando olhei de novo para a frente levei um susto, ela vinha voltando.
Apertei o passo mas não querendo chegar de jeito nenhum.

Ela chegou.

Passou direto.

Antes, ri para ela.
Sempre rio para alguma coisa, isso é verdade.

Ela continuou andando, mas olhou para trás, levantou os óculos até a testa e riu de volta.

Uma onda quente morreu nos meus pés, a espuma sumindo devagar. Foi o que vi antes de voltar os olhos para ela, o corpo tão branco de quem nunca jamais tomou sol, o maiô de freira, as pegadas pouco a pouco cobertas pela água.
Na dúvida entre ir em frente ou voltar, fiquei parado, como se tivesse perdido um ente querido.

*
Molhei os pés com a mangueira, no jardim. Interrompi uma procissão de formigas que escalava a roseira de uma rosa só. A copa de um coqueiro balançava no azul da noite recém- chegada, num dos quintais da rua.
O cachorro voltou.

Piso nas lajotas frescas da sala, teimo em ligar o rádio que não funciona e procurar uma fruta que já não há.
O cachorro vem adernando o rabo de tal forma que as patas traseiras esfregam o chão.

Folheio uma das revistas que sempre estiveram por aqui. A vida de um beija-flor em uma página. Decido fazer alguma coisa para comer. Ele sabe. Afeiçoou-se ao cardápio, dança ao som do rádio mudo.
Engraçado, não me lembro de seus latidos.
Prestamos atenção: a vizinha também já estava em casa. Ouvimos sua voz. Por que os meninos estiveram tão quietos?
São a minha banda de música, anunciam a chegada da mãe.

Ela deve estar em pé na ponta da cozinha, de banho tomado, observando os garotos. O maiô goteja no varal. Morcego molhado. Agora eles chutam a bola, que atravessa o muro e quiçá do nosso lado. É música. Ela diz “ahh!" Saímos e assistimos. A bola despetala a rosa.
As formigas veem um planeta inteiro cair.

Cadão Volpato


Texto extraído do livro “Geração 90 — Manuscritos de computador”, Editora Boitempo – 2001, São Paulo (SP), pág. 255. Organização de Nelson de Oliveira.



Fonte: releituras.com




Posted by alone Dated06aug2011


sexta-feira, 5 de agosto de 2011

FRASE POLÍTICA



O contribuinte é o único cidadão que trabalha para o governo sem ter de prestar concurso.






Fonte: NET





Posted by alone Dated05aug2011

Ele Conseguiu







Quem me vê, aqui no Leblon, passando de bermudas com o ar meio aparvalhado de sempre, as bainhas das bermudas de sempre abaixo dos joelhos, as sandálias de sempre escorregando dos pés e o sorriso alvar de sempre com que respondo aos cumprimentos de desconhecidos, vai jurar que é o mesmo lunático inofensivo que costuma circular nas vizinhanças, indo comprar bolo de aipim na confeitaria ou ao boteco para arrostar as agressões à minha vascainidade temporariamente injuriada (apesar de já estar classificado, mas quem é vascaíno mesmo sabe a que quero referir-me) e certamente não desconfiará de nada. Passará até por perto de mim, sem ter a menor idéia de que, em meu cérebro tresvariado, reside um quase-homicida, a ponto de cometer não só um, mas vários tresloucados gestos. E, de fato, tenho saído muito mais que habitualmente para não começar a tresloucar à mínima provocação da parte dele, cuja convivência já não consigo suportar e cuja visão ameaça levar-me a crises convulsivas.

Sim, talvez algum de vocês já tenha adivinhado. É o computador, esta máquina demoníaca com a qual somos cada vez mais obrigados a conviver e que, na exatíssima descrição de um amigo meu, é dividida em duas partes principais: o hardware e o software. O software é a parte que você xinga e o hardware é a parte que você chuta. Até umas duas semanas atrás, apesar de rudes golpes e embates, eu terminava ganhando, ou pelo menos obtendo razoáveis condições de sobrevivência. Agora, porém, me vejo derrotado, arrasado, devastado e - tenho certeza - observado com desdém sádico e sarcástico por este monitor que sou obrigado a fitar de olhos injetados. Ele finalmente ganhou. Eu não deixava que ele pegasse vírus ou qualquer outra afecção, dedicava a seu caráter solerte e traiçoeiro a mais vigilante das atenções, mas desta vez ele achou um jeito de ganhar, aplicando-me um simples golpe mecânico.

Tento amenizar meu sentimento de revolta e humilhação raciocinando que ele veio para ficar e ou nos habituamos a ele ou nos fossilizamos em questão de semanas. Lembro os tempos heróicos em que, para escrever um livro, eu tinha de catamilhografar minha pobre literatura usando um abominável papel-carbono que produzia uma cópia que eu jamais emendava, mas guardava por questão de segurança, revendo resmas de laudas amarfanhadas, passando a limpo (a sujo, na realidade, porque as emendas a caneta posteriores eram inevitáveis) tudo e encaminhando o resultado a uma datilógrafa profissional, que produzisse originais apresentáveis. Depois, revia os erros que a datilógrafa também cometia, entre frasquinhos de substâncias malcheirosas, colas viscosas, fitas adesivas, tesouras e equipamentos esotéricos que algum amigo sempre trazia da Alemanha e que acabavam se revelando instrumentos de tortura. E, enfim, depois dessa bodosíssima odisséia, entregava os originais à editora, que os mandava à gráfica, que fazia a composição em linotipo, que vinha com erros, que eram de novo emendados, que... Enfim, era uma mixórdia infernal, de que o computador nos livrou para sempre.

Livrou, sim, mas com a condição de que usássemos uma máquina cuja manutenção dá mais trabalho do que, como já disse aqui, manter e administrar seis famílias. Revejo esta estimativa agora. Não seis famílias, mas pelo menos umas oito a dez. Em verdade lhes digo, para que o computador funcione cem por cento (cem por cento, não, porque isso é uma utopia, mas uns 80 a 90 por cento, porque sempre há alguma coisinha que requer um acerto nem sempre adiável), é preciso que se dedique a ele pelo menos o dobro do tempo que se dedica ao trabalho propriamente dito. Duvido que o mais fanático dos proprietários ou colecionadores de automóveis tenha mais trabalho do que um pobre usuário de computador.

Quem usa sabe, não tenho o que explicar. Quem não usa não seria capaz de avaliar o que significa trabalhar em regime de permanente suspense, ameaçado por interrupções e anúncios sinistros, além de acusações infundadas, tais como a de que o pobre escrevinhador acaba de cometer uma operação ilegal e o programa será fechado. Isso é o mínimo. O meu mente de forma desavergonhada e alardeia a ocorrência de catástrofes que jamais se materializam e, quando se materializam, só são realmente solucionáveis por uma comissão de técnicos ensandecidos, que falam uma língua incompreensível pelo resto da Humanidade e declaram tudo obsoleto, inadequado ou, para usar uma palavra de que cada vez gostam mais e só é empregada com maior freqüência em relação à vida pública nacional, corrompido. O que você aprendeu ontem não serve mais para hoje e o que você instalou ontem se recusa a comunicar-se, ou sequer coexistir, com o que você teve de instalar hoje. Conheço vários mártires companheiros de sofrimento, como, por exemplo, o equilibradíssimo colega e amigo Zuenir Ventura, que, como eu, alterna momentos em que quer atirar o computador pela janela ou atirar-se ele mesmo pela janela.

Mas eu ia resistindo, pagando o preço da eterna vigilância. Era, de certa forma, um vitorioso. Hoje, porém, não. Ele vinha dando sinais de que a rebelião final chegaria, mas eu não ligava. Afinal, não havia vírus, não havia descuido quanto a nada. Até que chegou o dia em que, sem mais um aviso a não ser de que havia um erro no disco, ele travou de vez e não voltou a dar sinal de vida. Mudei o disco e perdi tudo. É como se uma biblioteca tivesse pegado fogo. Desarvorado, não sei mais o que escrevi, como escrevi ou a quem escrevi. Dirão vocês que se deu bem a literatura brasileira, pois nunca mais haverá um livro de crônicas minhas, talvez livro nenhum. Nem haverá um eu, possivelmente. Sim, porque enquanto arrasto os pés por aí com a cara apalermada, sei que ele ganhou e agora está apagando os meus últimos neurônios. Se, na próxima semana, eu não aparecer, vocês já sabem: fui deletado.

João Ubaldo Ribeiro

Fonte: http://www.releituras.com/





Posted by alone Dated05aug2011


quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Carona de índio (Piada de Loira... "pobre coitada")



Uma loira daquelas extremamente gostosas e burras também estava dirigindo no interior do Texas, quando seu carro quebrou. Enquanto a loira chuta a lata velha, um índio oferece uma carona até a cidade mais próxima. A loira, que não tem muitas opções, aceita. Ela monta na garupa e o cavalo sai galopando. A viagem segue tranqüila e sem grandes incidentes. Mas de vez em quando o índio solta alguns berros. Apesar disso, a loira e o índio chegam na cidade, ele a leva numa oficina. Ela desce e se despede, e o índio agradece efusivamente e visivelmente excitado. O mecânico confuso, pergunta:

- O que é que deixou o índio tão excitado?
A loira faz cara de dúvida e responde:

- Eu não sei, acho que fiz algo de errado. Mas, eu apenas sentei atrás dele no cavalo, passei os braços em volta do seu peito e fiquei me segurando no apoio da sela. O mecânico sorri:

- Mocinha, os índios não usam sela!

Fonte: piadalegal.com.br/






Posted by alone Dated04aug2011


Não me importaria



Não me importaria
De ouvir pequenos ais
E mesmo assim viesses

Não me importaria
Se a nossa nau imaginária
Ao teu cais chegasse

Não me importaria
Desse sorriso
Que só a tela registasse

Não me importaria
Se a chuva te tocasse
E em amor se desfizesse

Serafim Sousa

Fonte: astormentas.com/




Posted by alone Dated04aug2011


quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Poesia Brasileira




Depois do beijo
A dor na boca
Dá saudade

Agora
a saudade
da dor na boca

depois
saudade da saudade


Alice Ruiz S.
Do seu livro “dois em um” – 1º lugar 51º Prémio Jabuti - Poesia
Ed.Iluminuras (SP)





Posted by alone Dated03aug2011


ADRIANO MOREIRA numa "Citação"



"A velocidade da comunicação serve mais frequentemente a divulgação, em tempo real, dos conflitos, das suas consequências, agravando herdados capitais de queixa, do que serve o melhor conhecimento recíproco das identidades envolvidas, ou uma clarificação das causas e dos motivos da quebra da paz, ou projectos de construção de um futuro cooperante."




Tema - Comunicação

Fonte: Diário de Notícias / 20070320



Extraída do citador.pt




Posted by alone Dated03aug2011


Verdes são os campos!





Posted by alone Dated03aug2011

O Verdadeiro Gesto de Amor



Aquilo que de verdadeiramente significativo podemos dar a alguém é o que nunca demos a outra pessoa, porque nasceu e se inventou por obra do afecto. O gesto mais amoroso deixa de o ser se, mesmo bem sentido, representa a repetição de incontáveis gestos anteriores numa situação semelhante. O amor é a invenção de tudo, uma originalidade inesgotável. Fundamentalmente, uma inocência.

Fernando Namora, in 'Jornal sem Data'



Fonte: citador.pt


Posted by alone Dated03aug2011

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Menininha danada (PIADA da tarde e à tarde...!)



Havia um rapaz tomando sol pelado numa praia deserta. Ele viu uma menininha vindo em sua direção, então ele cobriu suas partes íntimas com o jornal que estava lendo. A menininha chegou ate ele e perguntou:
- O que é que você tem aí debaixo do jornal?
- Um passarinho - o rapaz respondeu.
A garotinha foi embora e o rapaz adormeceu. Quando ele acordou, estava num hospital com dor tremenda. Quando a polícia perguntou o que havia acontecido, o cara respondeu:
- Eu não sei. Eu estava deitado na praia, uma menininha perguntou sobre minhas partes privadas e a próxima coisa de que sei e que estou aqui.
A polícia voltou para a praia, encontrou a menininha e perguntou a ela:
- O que você fez com o rapaz que estava pelado? - Depois de uma pausa, a menininha respondeu:
- Com o moço? Nada. Eu estava brincando com o passarinho, mas ele cuspiu em mim. Daí eu torci o pescoço dele, quebrei seus ovos e toquei fogo no ninho dele!

Fonte: zebisteca.com.br/




Posted by alone Dated02aug2011


A Psicologia do Medo



O medo é o que impede que tudo o que chega às maõs dos homens não se torne em sua propriedade. Basta produzir uma impressão que não se pode explicar, inserindo no medo o desconforto da culpa. É assim que milhões de pessoas podem ser pastoreadas nas ribeiras da paz por muito poucas. E nas trincheiras da guerra por outras tantas, senão as mesmas.

Agustina Bessa-Luís, in 'Antes do Degelo'




Posted by alone Dated02aug2011

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Um passo à FRENTE, dois ATRÁS...!



Diz o velho ditado popular: “quem fizer uma boa cama, nela se deitará!...”. E, é mesmo, uma verdade!...



Vim de Portugal, onde trabalhava, tinha uma vida calma, sem nada de riquezas, mas nem uma “vida sofrida” nem uma vida vivida a 100 à hora. Ia ao cinema, ao teatro, passeava para onde queria e quando queria, namorava se “era o caso”, estava próximo dos amigos, das minhas filhas e na minha cidade...!!! Aos cinqüenta e tal anos, porque “carga d’água” me teria passado pela cabeça em recomeçar uma vida num País que não tem NADA a ver comigo, com uma mulher que não me entende e eu não entendo ela, com uma sogra que é um “calvário”, com problemas e mais problemas monetários, sendo “vigiado” mesmo quando se sabe que eu sou uma pessoa sem vícios nem maldades, quando –por tudo e por nada- sou acusado de traição como se um blog, um Orkut, um MSN e outras “virtualidades” me permitissem “isso” ...!!!



Estou farto de viver na “lama”, de chafurdar em tanta coisa que não presta, de dar mais uma e outra “oportunidade” para o “entendimento”. Quando não é por isto é por aquilo, a minha roupa degrada-se de dia pra dia, a casa tem dias que parece “pocilga”, a comida (do casal e dos cachorros, gatos, etc...) é preocupação minha, NADA tem planeamento e agora, mais uma vez, nem conta bancária tenha “minha” (ela tem as dela mais as minhas...!). Ela, essencialmente, tem 3 linhas de ação na vida: ir ao trabalho, trabalhar em casa para o trabalho, ir permanentemente para a casa da mãe -por "supostas doenças" da senhora- e ficar na NET a tentar “descobrir” TODAS as minhas “infidelidades”...! Isso e “só isso”...!!!



Que comida, que roupa, que arrumação de casa, que dar uma ajuda nos animais, que flores, que jardim... ela sabe lá o que isso é!...



Agora o “ponto de situação” é este: insulino-dependente, sem dinheiro, sem vida própria, sem amigos, com um salário de miséria e com “todos os problemas” por ser Português e “não me calar”, claro, que rumo posso eu dar à minha vida?!... Esse futuro passa por continuar no Brasil mas viver “alone” ou passa por voltar a Portugal, avisado que estou que aos quase 60 isso “não é o caminho ideal”...?!



Estou QUASE a “baixar os braços”... !!! De "vez"...!!!




Written an Published by alone Dated01aug2011


domingo, 31 de julho de 2011

Queen - 'Las Palabras De Amor' (Freddie Mercury Tribute Concert)




Queen and Zucchero perform 'Las Palabras De Amor'' live. Taken from 'The Freddie Mercury Tribute Concert'. (as per Vídeo info)


Posted by alone Dated31jul2011


poderosissimo@ceu.com Do you have problems? e-mail us!

Nunca acreditei (muito) na idéia de Deus, principalmente porque todo mundo que realmente existe e é importante dá entrevista coletiva ou aparece no Jô. E essa história de "O Senhor proverá" sempre foi uma justificativa maravilhosa para o impasse entre capitalismo, consumismo e o ócio. Mas filosofia de congestionamento leva à depressão que é fortemente agravada pelo sol, tédio e dor nas costas.

A verdade é que esses fatos são sempre bem menos relativos do que é possível imaginar, e questionar deus (ou Deus, quem é que sabe?) sempre pareceu um ato extravagante. Enfim, é um dia quente, o trânsito está horrível e a possibilidade de morrer desidratada é enorme. Uma extrema unção seria útil. Pego o celular wap e procuro um acesso rápido a Deus (este mesmo: senhorialmente maiúsculo), um canal que ofereça milagres, confissão e penitência por e-mail.
Confortável e conveniente.

Faço como sempre fiz mas, para minha surpresa, o caminho normal havia sido alterado e em vez do botão de envia, a única coisa na tela do celular era o esboço de um rosto e
os comandos haviam sido trocadas por uma voz grossa e rouca, altamente sensual.

Confesso que fiquei excitada — pela situação e pela voz. O que estava sentindo era quase um orgasmo e controlar os gemidos era doloroso, mas a situação (o orgasmo) foi amenizando e tudo o que restou foi um formigamento e as palavras de um senhor me explicando a situação: optou por não dar entrevistas coletivas, mas estava no meu wap e responderia o que eu quisesse.
Em off, claro!

Perguntei sobre ele, sua aparência, o apocalipse, Jesus Cristo, a virgindade de Maria, Maria Madalena — que ele descreveu como uma "morena estonteante e capaz de desviar o caminho de qualquer Messias". Depois me contou impropriedades sobre Sodoma e Gomorra. Basicamente foram queimadas por estarem se tornando pontos turísticos. Falou sobre os castigos, a Santa Ceia, o Espírito Santo e do estranho hábito de São Paulo:
consumir um cigarrinho antes dos sermões que, além de interessantes, eram animadíssimos.

Conversamos horas e o calor até passou. Falamos de compromissos, entregas, evangélicos, guerras santas, crianças, camelos, Lázaro e Noé — que era pansexual.
Ele evitava rir talvez para que eu também não o fizesse.

Disse ainda que roncava, gostava de jogar paciência spider, ver os transes em festas techno e, principalmente das páginas de caráter religioso na web. Confesso que me assustei com essa última afirmação, mas contou com um certo prazer o quanto era divertido assistir alguém brincando de ser Ele. Ah! E que na altura de sua experiência, ver aquela impropriedade era como um filme de Almodovar (que ele adora). Advertiu que não gosta de cinema americano;
prefere os filmecos da década de 20 e freqüentemente volta lá para assistir as filmagens.

Durante nossa conversa percebi que Deus era um pouco como eu, ou melhor, eu era como ele. E notei com uma certa angústia que ser educada por uma família católica não era uma grande vantagem, mas viver num mundo religiosamente ateu me deu certos anticorpos para perceber que uma parte ínfima de Deus era eu.
E que nas minhas milhares de horas de vida podia ter me dedicado mais a nós.

Sobre a sua onipresença disse apenas que tinha um equipamento muito avançado. E com a minha fé amadora aprendi mais sobre Deus num wap do que em anos de catecismo. E quando criança rezava para que ninguém aparecesse para mim. Não suportaria a situação.
Mas gosto muito dos santos e me restava saber se havia alguém que gostava de mim muito embora tenha dado as costas para Iemanjá, mesmo vestindo calças bem apertadas para ter certeza de que ocupava um espaço no mundo.

Então o pior aconteceu; o trânsito andou e Deus foi embora. Mas antes disse que o fim do mundo estaria próximo e seria anunciado por uma hecatombe. Por via das dúvidas, larguei a faculdade e o emprego e abri minha web-seita. Íamos bem, mas estamos com problemas seriíssimos de direitos autorais. Recentemente Bill Gates patenteou os números 1 e 0 e fica difícil realizar qualquer coisa com ou sem eles. Na dúvida patenteei do 2 ao 9.
Ganho menos dinheiro, mas rende bem.

Ainda assim estou decepcionada com a falta de coragem suicida da minha fé e não consigo fazer música com o som do teclado e, tampouco me emocionar com as minhas missas virtuais. E que tipo de mártir eu esperava ser nascendo no século XX? Fax, videocassete, pager, telefone, televisão, internet, rádio — analógico ou digital —, não importam. Se no princípio era verbo agora tudo é gerúndio. O máximo seria uma versão informatizada de Santo Agostinho. Prometo, assim que os meus anunciantes me deixarem, virar sanduíche de informação na Praça da Sé. E com uma ótima trilha sonora. Nada de padres mas cantos gregorianos.
Mais que isso, juro aprender que a liberdade não se resume a uma estátua da ilha de Manhattan.

Já resolvi que não importa o verbo. Vou é viver de metáforas e com a renda dos números. É lógico e lúdico.
Na internet o que não é?

Fabrina Martinez

Fonte: releituras.com




Posted by alone Dated31jul2011