O mundo mágico dos contos face à rotina do quotidiano.
A Clara vive no Brasil.
Não tem quase nada. Tem uma pele de âmbar e cabelos pretos. Veste uma t-shirt grande e, nos pés, traz sandálias de borracha, faça chuva ou sol.
A Clara tem doze anos. Trabalha num orfanato. Tem de limpar a cozinha e, de vez em quando, pode fazer de mãe dos mais pequeninos. E gosta muito disso.
À quinta-feira, é o dia de descanso da Clara. É então que sai…
A cinquenta metros, perto de um banco que está fechado, estão todos juntos à espera dela. Olham uns para os outros, sorriem, regalam-se de antemão. São os seus amigos: a Lúcia, o Ângelo e a Ana. Não têm casa e dormem onde calha, nas ruas do Rio.
A Lúcia tem oito anos. Os seus cabelos são como ninhos de andorinha. As mãos e os pés mexem-se constantemente e ela está sempre a rir.
O Ângelo é pequeno mas muito forte para os seus onze anos. Um dia, conseguiu mesmo levantar uma bicicleta. Está sempre descalço. Caminha sem problemas sobre as pedras. Canta as canções escritas por aqueles que viajaram e viram muitos países. Canta muito bem, o Ângelo.
A Ana é a mais bem comportada. Não fala muito. Tem doze anos, tal como a Clara, que conheceu há muitos anos, naquele sítio, diante do banco.
Por vezes, a Lúcia, o Ângelo e a Ana vão trabalhar na produção do algodão. Outras vezes, varrem as ruas. Ou então, os pescadores chamam-nos à praia para puxar as redes. Depois, encontram-se, sonham em conjunto, com o nariz no ar, a olhar para as nuvens e a contar os dias até quinta-feira.
O Ângelo, a Lúcia e a Ana têm muitos amigos na rua. Alguns respiram uma cola contida em garrafas de plástico, o que os faz sorrir sem razão nenhuma.
Quando a Clara encontra os amigos, vão todos a correr para a praia. Atiram areia à cara uns dos outros. Cantam Pescadores dos três mares e comem o pão que os turistas lhes dão. A Lúcia, o Ângelo e a Ana não querem daquela cola que faz esquecer os problemas.
Eles têm a Clara. A Clara é a mercadora de sonhos. Não é que os venda realmente; em vez disso, dá-os de prenda.
A Clara sonha muito alto com lugares maravilhosos. Praias compridas e douradas com barcos, papagaios de papel e papagaios de verdade. Montanhas encantadas cobertas de gelo e criaturas estranhas, onde sopra um vento mágico, do norte, que te adormece e te acorda cem anos mais tarde. Cidades futuras cheias de luz. De carros que voam e de parques de estacionamento floridos. E de um fogo de artifício feito de pequenos comboios brilhantes, de pizzarias e de arranha-céus espelhados.
E a Clara fala-lhes de um Rio sem adultos, onde só há crianças, gentis e alegres, que têm os dentes todos. Saltam sobre os carros e invadem as lojas de bombons. Ela oferece-lhes vales inteiros de árvores carregadas de frutos, com quatro sóis amarelos no meio do céu e com camponeses ricos, vestidos como comerciantes. E a Clara transforma os monumentos antigos da cidade em palácios das Mil e Uma Noites, e os gatos que passam em tigres da Malásia.
A Clara conta os seus sonhos durante horas. Ela estudou quatro anos na escola e lê todos os livros que encontra.
Agora, é tarde. A Clara levanta-se, sacode a areia das mãos e volta para o orfanato. Os amigos escutaram-na, de boca aberta. Riram e choraram. E os olhos deles arregalar-se-ão de novo na próxima quinta-feira. Para eles, não há cola.
Eles têm a Clara.
E muitos sonhos bons para viver ainda…
Fonte: tapetedesonhos.wordpress.com/
Posted by alone Dated09sep2011
Rui,
ResponderExcluirEu concordo totalmente quando se fala a enorme importância da literatura infantil na vida das crianças. Eu estou terminando meu curso de mestrado em Psicanálise e o meu tema é "O CONTO DE FADAS COMO OBJETO DE UM (RE) PENSAR SOBRE O BULLYING NO CONTEXTO ESCOLAR.”
O conto de fadas, introjeta nas crianças um mundo de possibilidades, onde o mau é mau e o bom é bom; bem X mal. E isso faz com que eles decidam o que querem, organizam seus sentimentos.
Adorei a história da Clara. Sonhar faz parte da vontade de Deus para a nossa vida.
Beijokas doces.
PS: Meu blog não está entrando, estou aguardando que ele volte a dar-me a alegria de tê-lo.
meu email é lybeneblog@gmail.com
Meu Amigo
ResponderExcluirComecei a ler muito novita mesmo e tive o privilégio de ter uns pais que incentivaram sempre o amor à leitura! Conheci todas as fadas, duendes, reis, princesas e até um mocho sábio!
Guardei todos esses livros como uma preciosidade que passei com muita alegria para o meu filho!
Ainda hoje gosto de fadas e de duendes como tu que, fazem da vida real, um conto maravilhoso onde as crianças são felizes...pelo menos à 5ª feira! Parabens pela tua criatividade.
Mil beijos.
Graça