Podereis roubar-me tudo:
as ideias, as palavras, as imagens,
e também as metáforas, os temas, os motivos,
os símbolos, e a primazia
nas dores sofridas de uma língua nova,
no entendimento de outros, na coragem
de combater, julgar, de penetrar
em recessos de amor para que sois castrados.
E podereis depois não me citar,
suprimir-me, ignorar-me, aclamar até
outros ladrões mais felizes.
Não importa nada: que o castigo
será terrível. Não só quando
vossos netos não souberem já quem sois
terão de me saber melhor ainda
do que fingis que não sabeis,
como tudo, tudo o que laboriosamente pilhais,
reverterá para o meu nome. E mesmo será meu,
tido por meu, contado como meu,
até mesmo aquele pouco e miserável
que, só por vós, sem roubo, haveríeis feito.
Nada tereis, mas nada: nem os ossos,
Que um vosso esqueleto há-de ser buscado,
para passar por meu. E para os outros ladrões,
Iguais a vós, de joelhos, porem flores no túmulo.
Jorge de Sena **
Sobre o Autor
** Escritor português, licenciado em Engenharia Civil, nasceu em Lisboa em 1919, radicou-se no Brasil em 1959 e nos Estados Unidos da América em 1965, onde veio a falecer em 1978. Tem uma vasta obra de ficção, drama, ensaio e poesia.
** Escritor português, licenciado em Engenharia Civil, nasceu em Lisboa em 1919, radicou-se no Brasil em 1959 e nos Estados Unidos da América em 1965, onde veio a falecer em 1978. Tem uma vasta obra de ficção, drama, ensaio e poesia.
Posted by alone
Dated14fev11
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